"Nada pode ser mais simples do que os sons - ondas de ar comprimido. Não interessa quantos sons, discursos, melodias, assobios e arrotos diferentes existem à nossa volta numa divisão, ao ouvido chegam apenas ondas de ar comprimido. O tímpano vibra, as vibrações saltam para a cóclea que por sua vez as traduz em impulsos nervosos que viaja, até ao córtex auditivo. E é assim que a festa começa. Com fantásticas capacidades forentes, o córtex auditivo transforma os sinais brutos em sons individuais. Os caçadores do paleolítico conseguiam separar o mínimo som que queriam ouvir - por exemplo, o de um veado, atrás dos arbustos, a mascar folhas - do chilrear dos pássaros, do ramalhar das árvores, ou do murmúrio dos rios. Hoje em dia estamos rodeados por um barulho de fundo diferente. Numa festa, a música substitui o chilrear dos pássaros, as roupas valem pelo ramalhar das árvores, em vez do rio temos o barulhinho, e o som específico que queremos ouvir não é o do veado a mascar folhas, mas o convidado a mordiscar um aperitivo e a falar-nos dos seus passatempos.
Apesar do convidado falar calmamente e de existir burburinho à sua volta, somos capazes de o ouvir com uma clareza incrível.
Fazendo jus ao nome de Colin Cherry, este fenómeno por ele investigado, foi denominado por 'Efeito Cocktail Party' , por ser particularmente notório neste tipo de festas. A sua investigação pioneira de 1950 não tinha por objectivo ajudar-nos a compreender as festas de cocktail, mas ajudar os controladores de tráfego aéreo a discernir a caótica tagarelada que ouviam nos seus auscultadores. O trabalho de cherry com os controladores de tráfego aéreo demonstrou que todos nós seleccionamos o que queremos ouvir e fazemos por ignorar o resto. Acima de tudo, demonstra que, assim que o cérebro consegue separar os sons e avaliá-los, quase todos são deitados fora, sendo apenas aproveitados os sons do convidado e do seu passatempo.
Na verdade não é assim tão simples, como Murphy faz questão de salientar de vez em quando. Os outros barulhos não são instantaneamente excluídos; são inconscientemente supervisionados. E a prova disso é que:
Toda a gente se cala numa sala quando ouve a palavra 'sexo'.
De repente, toda a gente na festa está a ouvir-lo. Como é que conseguiram ouvir aquela palavra com toda a algazarra? que vergonha. Esta Lei de Murphy revela a espantosa capacidade do córtex auditivo. O burburinho que o cérebro parece estar a ignorar é inconscientemente aferido através de palavras chave antes de ser excluído. Quaisquer sons que o cérebro considere interessantes estão a ser atirados para a consciência. Não é de admirar que 'sexo' seja considerada uma palavra muito interessante.
Outras palavras e sons significativos podem emergir do burburinho. Um telemóvel com o mesmo toque que o seu despertar-lhe-à a atenção. Se alguém pronunciar o seu nome as suas orelhas ficarão a arder e é sabido que se ouvir o seu nome, ouvirá também muitas das palavras que o procederam - prova portanto de que o cérebro armazena o barulho exterior durante alguns segundos.
Ouve-se melhor um murmúrio do que um berro.
O cérebro supervisiona os sons à sua volta. Diferenças subtis na camada audítivel são merecedoras de especial atenção, mesmo que haja uma diminuição de volume. Se o casal mais próximo se si baixar repentinamente a voz, irá despertar, de certeza, a sua atenção; os seus ouvidos esforçar-se-ão por ouvir o que eles estão a dizer.
Quando espia os vizinhos não ouve todas as palavras, apenas parte delas. O cérebro acrescenta partes que considera em falta. Normalmente consegue fazer um trabalho muito bom, mas às vezes engana-se.(...)
Tive recentemente uma conversa à Murphy, em Pequim, com uma mulher chinesa. A sua pronúncia inglesa não era perfeita, ainda assim, achei que estávamos no bom caminho. Ela tinha um emprego, disse-me, que consistia em encontrar cavalos(horses) para pessoas que vinham viver para Pequim, e eu disse-lhe que ainda não tinha visto cavalos desde que chegara.
-Mas é claro que viu - disse ela - Toda a gente em Pequim tem um cavalo.
-Toda a gente? - hesitei - Ainda não vi um único cavalo!
-Mas onde é que haviam de viver? - disse ela. Calámo-nos, e foi aí que percebi que estávamos a falar sobre casas(houses). Uma pequena diferença na pronúncia resultou numa conversa estranhamente surreal."
Texto retirado do livro "A lei de todas as coisas" de Richard Robinson
Apesar do convidado falar calmamente e de existir burburinho à sua volta, somos capazes de o ouvir com uma clareza incrível.
Fazendo jus ao nome de Colin Cherry, este fenómeno por ele investigado, foi denominado por 'Efeito Cocktail Party' , por ser particularmente notório neste tipo de festas. A sua investigação pioneira de 1950 não tinha por objectivo ajudar-nos a compreender as festas de cocktail, mas ajudar os controladores de tráfego aéreo a discernir a caótica tagarelada que ouviam nos seus auscultadores. O trabalho de cherry com os controladores de tráfego aéreo demonstrou que todos nós seleccionamos o que queremos ouvir e fazemos por ignorar o resto. Acima de tudo, demonstra que, assim que o cérebro consegue separar os sons e avaliá-los, quase todos são deitados fora, sendo apenas aproveitados os sons do convidado e do seu passatempo.
Na verdade não é assim tão simples, como Murphy faz questão de salientar de vez em quando. Os outros barulhos não são instantaneamente excluídos; são inconscientemente supervisionados. E a prova disso é que:
Toda a gente se cala numa sala quando ouve a palavra 'sexo'.
De repente, toda a gente na festa está a ouvir-lo. Como é que conseguiram ouvir aquela palavra com toda a algazarra? que vergonha. Esta Lei de Murphy revela a espantosa capacidade do córtex auditivo. O burburinho que o cérebro parece estar a ignorar é inconscientemente aferido através de palavras chave antes de ser excluído. Quaisquer sons que o cérebro considere interessantes estão a ser atirados para a consciência. Não é de admirar que 'sexo' seja considerada uma palavra muito interessante.
Outras palavras e sons significativos podem emergir do burburinho. Um telemóvel com o mesmo toque que o seu despertar-lhe-à a atenção. Se alguém pronunciar o seu nome as suas orelhas ficarão a arder e é sabido que se ouvir o seu nome, ouvirá também muitas das palavras que o procederam - prova portanto de que o cérebro armazena o barulho exterior durante alguns segundos.
Ouve-se melhor um murmúrio do que um berro.
O cérebro supervisiona os sons à sua volta. Diferenças subtis na camada audítivel são merecedoras de especial atenção, mesmo que haja uma diminuição de volume. Se o casal mais próximo se si baixar repentinamente a voz, irá despertar, de certeza, a sua atenção; os seus ouvidos esforçar-se-ão por ouvir o que eles estão a dizer.
Quando espia os vizinhos não ouve todas as palavras, apenas parte delas. O cérebro acrescenta partes que considera em falta. Normalmente consegue fazer um trabalho muito bom, mas às vezes engana-se.(...)
Tive recentemente uma conversa à Murphy, em Pequim, com uma mulher chinesa. A sua pronúncia inglesa não era perfeita, ainda assim, achei que estávamos no bom caminho. Ela tinha um emprego, disse-me, que consistia em encontrar cavalos(horses) para pessoas que vinham viver para Pequim, e eu disse-lhe que ainda não tinha visto cavalos desde que chegara.
-Mas é claro que viu - disse ela - Toda a gente em Pequim tem um cavalo.
-Toda a gente? - hesitei - Ainda não vi um único cavalo!
-Mas onde é que haviam de viver? - disse ela. Calámo-nos, e foi aí que percebi que estávamos a falar sobre casas(houses). Uma pequena diferença na pronúncia resultou numa conversa estranhamente surreal."
Texto retirado do livro "A lei de todas as coisas" de Richard Robinson
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