segunda-feira, maio 05, 2008

Portugal

"Nos séculos XV e XVI os Portugueses eram os grandes conquistadores, ao darem novos mundos ao mundo. Foram, sem qualquer dúvida, anos de glória, de que todos nos orgulhamos! Um país pequeno, à beira mar plantado, que partiu à descoberta dos mares e das riquezas que moravam do outro lado do mundo.
Vários séculos depois, com uma generalizada falta de confiança, importa perceber quais são as nossas conquistas actuais. Importa dar a conhecer os novos “Vascos da Gama”, que possam servir de referência para as gerações mais jovens, e de orgulho para as menos jovens.
Temos o Futebol Clube do Porto, mas “há” 6 milhões que não se revêem neste grande clube. Claro que temos o Cristiano Ronaldo, mas a confiança de um povo não pode, nem deve, depender só do futebol. Temos a Mariza, mas nem só da música podemos viver. Temos José Saramago, mas a literatura também não alimenta o espírito de todos. Precisamos de mais... de outros valores.
Mas o que mais temos nós que possa ser motivo de orgulho? Quem são outros dos nossos “conquistadores” contemporâneos? Temos a ciência portuguesa! Temos os investigadores portugueses! Temos as descobertas importantes que vão sendo feitas por estes investigadores! Não são heróis, nem devem ser idolatrados. Mas podem ser motivo de orgulho!
Portugal tem vindo a fazer uma aposta firme na formação avançada que está a dar frutos. Muitos portugueses têm tido a oportunidade de trabalhar nos melhores laboratórios, nas melhores Universidades, com os melhores investigadores por todo o mundo. Por um lado, estas pessoas têm tido oportunidade de desenvolver trabalhos de grande qualidade, que são depois publicados nas melhores revistas, como a Science, a Nature, ou a Cell. Por outro lado, têm mostrado que os portugueses são tão capazes como “os outros”.
Por norma, são pessoas muito motivadas e trabalhadoras, e por isso os casos de sucesso são numerosos. Para além de todos estes sucessos fora de portas, há também vários grupos portugueses em Portugal que têm sido capazes de desenvolver trabalhos de mérito reconhecido, com impacto internacional. Para se ser bom não é necessário sair de Portugal, e temos vários exemplos destes. Mas passar algum tempo no estrangeiro deve fazer parte da formação científica.
Ajuda-nos a compreender como os outros funcionam, como pensam, e ajuda-nos também a perceber o que é bom e o que é menos bom e que devemos evitar. Ajuda-nos a aumentar a dimensão das nossas conquistas. Ir para fora deve ser visto como algo natural e não como uma “fuga de cérebros”, uma ideia que, quanto a mim, tem sido alimentada de forma errada, já que não são investigadores já estabelecidos e com provas dadas que saem de Portugal. De qualquer forma, o desafio para Portugal está em atrair mais investigadores. Quer sejam portugueses ou estrangeiros. Precisamos dos que têm qualidade e são competitivos sendo também capazes de atrair financiamento internacional para o nosso país. E precisamos de lhes dar condições para que possam desenvolver os seus trabalhos.
Como país, precisamos de políticas concertadas que apostem na ciência a longo prazo, independentemente dos governos que possamos vir a ter. Temos semeado muito, e temos de perceber que estas colheitas só se farão daqui a vários anos. Temos de ser confiantes, primar pela qualidade, e explicar às pessoas que o que fazemos lhes vai ser útil. Temos de continuar a mostrar lá fora que temos qualidade, que temos ideias, e que sabemos fazer ciência, para aproveitarmos o potencial do nosso país.
Os investigadores devem também assumir o seu papel na divulgação das suas actividades, e conquistar espaço junto do público. Em Portugal temos ainda uma grande distância entre os investigadores e o público, o que faz com que muitas pessoas não percebam e não se interessem pela ciência. Neste campo as melhorias têm sido significativas, muito pelo trabalho da agência Ciência Viva. Mas outros agentes se têm encarregado de fazer comunicação de ciência, levando as conquistas e actividades científicas a todo o mundo, através da Internet. Aqui o destaque vai para o Ciência Hoje (www.cienciahoje.pt), lido em mais de 130 países, e com 14 mil visitas por dia. Números que impressionam, e que ilustram a importância da divulgação destes temas.
Mas, apesar de todos estes sinais positivos, nem tudo é ainda perfeito no nosso país e a ciência tem um longo caminho a percorrer. Precisamos de mais investimento, mais investigadores, mais ciência. Precisamos que toda a “máquina” que envolve e suporta a investigação propriamente dita esteja bem “oleada” e a funcionar continuamente, independentemente dos governos ou da política.
Cabe-nos a todos assumir o nosso papel como “conquistadores natos”, e trabalhar no sentido de impulsionar a ciência portuguesa, sabendo que, por esse mundo fora, há muitos com vontade de serem tão ou mais conquistadores do que nós. Por isso não basta parecê-lo. Temos de o ser"!


Por Tiago Fleming Outeiro

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