sexta-feira, agosto 03, 2012

Hoje apeteceu-me mudar a minha vida toda.


Ainda hoje me apeteceu mudar a minha vida toda. É uma espécie de frémito, uma coisa que me dá aqui para os lados da dorsal e que faz pousar os pés no chão com a finíssima convicção de que este dia não passará. E enquanto lavo a cara e olho para o espelho como sempre fazem nos filmes os revolucionários, penso naquilo que irei deixar para trás. E então, penso num incêndio em que tenho que decidir depressa o que levar comigo. E então penso na minha vida incendiada de repente, como tantas vezes acontece a tantos outros, só que desta vez é a minha e não é mais o acidente do outro lado da estrada, não é mais a notícia de alguém que eu não conheço, não foram os filhos dos outros, não foi noutro país nem numa rua que eu nem sei onde é, desta vez é comigo, foi em minha casa, fui eu, foi a minha vida. E todo isto está de tal forma em chamas neste agora que peço pois que atirem água fria para cima do que faço e escrevo. 

Hoje apeteceu-me mudar tudo e a minha grande dúvida foi desde logo perceber por onde começar. Devo eu mudar tudo à minha volta na esperança que eu me mude também? Ou devo eu mudar para que tudo mude à minha volta? Parecem iguais, não é? Mas não são. São diferentes. E aqui vos adianto: É mais fácil mudarmos tudo à nossa volta. Porque é muito difícil mudarmo-nos. Só se for de país, de casa, de roupa. Porque mudarmo-nos a nós, ao nosso eu com o qual sempre vivemos, que conhecemos tão bem, que pensamos em função de, que damos comidinha à boca há tanto como se fosse um filho, isso não é nada fácil. 


Hoje apeteceu-me mudar a minha vida toda, mas o mais que fiz foi apenas escrever sobre isso e comprar umas calças novas.

Fernando Alvim



PS: "Sejam Felizes!"

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