terça-feira, março 26, 2013

O amor tem prioridade...


Não há nada mais prioritário que o amor, mesmo que se apresente à direita. O amor tem isso, é prioritário sempre, quando a prioridade é à direita ele é a direita, quando a prioridade é à esquerda ele é a esquerda, quando a prioridade é ao centro, bem aí não tenho a certeza. O que eu sei e disso não tenho dúvidas, é que o que o distingue é esta prioridade. Não há nada mais prioritário que o amor – não pensem nisso – a tal ponto que no manual de condução de João Catatau – que é, como se sabe, o melhor – se deveriam mudar explicitamente todas as regras, todos os sinais de trânsito, com base nesta premissa: a prioridade é o amor. De resto, ainda outro dia fui parado numa operação stop e abeirando-se de mim ao mesmo tempo que batia uma reverente continência, o agente disse-me: O senhor sabe a asneira que fez? O senhor não sabe que aquela via tem prioridade? E eu, olhando-o fixamente nos olhos, com a reverência que a autoridade me merece, respondi-lhe: Engana--se senhor agente, a prioridade é o amor. E querem vocês saber que este não concordou e subtraiu-me 120 euros. Pois acreditem que sim. Mas não foi muito. Pelo amor já muitos ficaram sem tudo. E muitíssimo bem. Não há miséria melhor do que a provocada pelo amor. Podemos estar miseráveis sim, mas se não for pelo jogo, pela droga, pelo tráfico de armas, se for apenas pelo amor entendam-me, esta miséria nunca será absoluta, nunca será descabida aos olhos dos outros, nunca ficaremos sem nada, ninguém poderá dizer que perdeu tudo se lhe resta o amor ou tudo perdeu em nome dele. Quando muito poderão dizer “olha, foi o amor!” enquanto encolhem as orelhas. Ninguém pode dizer “olha, foi o tráfico de armas!” enquanto encolhem os ombros. O amor é como um cão ou gato que nos rói o cabo dos carregadores dos telemóveis: podemos ficar muito zangados quando o percebemos, mas desculpamos-lhe por sabermos que foi ele. Por isso, o amor tem prioridade. E quando o vejo de pé no autocarro, levanto-me e dou-lhe o meu lugar, para que se sente.


Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

PS: "Sejam Felizes!"

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